Carta aberta, ENADE

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Prezado senhor Ministro da Educação Fernando Haddad,


Nós, os estudantes de Comunicação Social do Brasil, viemos, através desta, manifestar nosso profundo descontentamento em relação à atual configuração do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade) e reivindicar uma maior participação dos estudantes na discussão sobre políticas públicas como essa.

No último dia 8 de novembro, fomos submetidos ao referido exame, e o sentimento após a prova não poderia ser descrito senão como de revolta. Destacamos aqui uma série de problemas da prova e reivindicamos que a voz dos estudantes seja ouvida na formulação das políticas para a educação superior, nas quais o Enade tem um papel fundamental.

Primeiramente, destacamos a existência de muitas questões mal formuladas e com alto nível de ambigüidade. Lembramos, inclusive, que diversos veículos da mídia nacional chegaram a constatar esses problemas. A ineficiência da cobertura, entretanto, foi a de não encarar a fundo um problema que é do exame como um todo, e não apenas de uma questão ou outra. Enfatizamos que há vários problemas na formulação das questões e nas alternativas propostas.

Em segundo lugar, gostaríamos de protestar contra uma concepção do processo comunicativo – do jornalismo especialmente – totalmente descolada da atualidade da pesquisa em comunicação no país, e que subjaz à totalidade da prova. Diversas questões nos fazem questionar a validade dos anos que passamos na universidade, e se realmente seria preciso ter cursado uma graduação para respondê-las.

Em terceiro lugar, apontamos o total despreparo dos aplicadores das provas. Talvez esse seja o ponto mais absurdamente grave da condução atual do exame. Em uma das escolas de Belo Horizonte (Escola Estadual Helena Pena), a instrução passada pelos aplicadores era a de que respondêssemos apenas às questões correspondentes à habilitação específica em que fomos inscritos. Ou seja: fomos instruídos – reiteradamente – a ignorar mais da metade das questões da prova. Após os protestos dos estudantes com bom senso, alguns decidiram contrariar as indicações dos aplicadores e responder de acordo com as instruções que figuravam na capa do caderno de provas. Outros, no entanto, seguiram as ordens dos aplicadores. O resultado da confusão foi um número enorme de provas incompletas.

Esse relato, que tem algo de anedótico e muito de patético, só oferece um exemplo dos muitos problemas que podem ser identificados na configuração atual do Enade. É importante destacar que, durante a Conferência de Comunicação de Minas Gerais, foi aprovada uma moção de protesto contra a condução atual do exame, assinada por várias lideranças do campo da comunicação. Embora a aprovação num fórum tão importante para a área não tenha sido noticiada na imprensa mineira, acreditamos que ela é um forte indício do descontentamento dos estudantes em relação à prova.

Reconhecemos e valorizamos a atitude do INEP, que decidiu anular onze questões da prova no início de dezembro, após a formação de uma comissão com especialistas. Essa anulação apenas endossa a constatação de que há problemas sérios em relação ao exame. No entanto, consideramos que essa decisão foi tomada num estágio muito tardio, uma vez que essas questões (reconhecidamente) mal-formuladas influem em como o aluno vê a prova e em como ele se sente com relação a ela, podendo confundi-lo ou desmotivá-lo.

Ressaltamos também que essas revisões, embora bem-vindas, são medidas paliativas e ainda cremos que a prova tem que ser revista não só em sua formulação como em sua aplicação, pois apresenta defeitos que vão além de enunciados ambíguos ou errôneos. E destacamos ainda a necessidade de que medidas sejam tomadas antes que os problemas que apontamos voltem a acontecer num futuro próximo.

Enviamos esta carta com a esperança de que o Ministério da Educação esteja aberto à discussão franca e séria com os estudantes, e de que obtenhamos uma resposta o mais prontamente possível.



Assinam esta carta as seguintes entidades e pessoas:

Centro Acadêmico de Comunicação Social da UFMG (ComuniCA)
Centro Acadêmico de Comunicação Florestan Fernandes (CACOFF)


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