Estudantes almoçando refeições remanescentes após o período de funcionamento do RU do último dia 12. O corte de refeições que se seguiu com o período de férias pegou de surpresa os que costumam almoçar por essa via nesta última semana. (foto: Ninjoco)


Na última terça-feira, muita correria pra não perder o horário do RU: desço do ônibus dois pontos antes do Ubaiano e entro pelo portãozinho que leva aos domínios da FC; com uma corridinha chego ao prédio faltando um minuto. Camaradagem da lista das refeições remanescentes esperando a sua oportunidade de comer, e quando vejo ouço que só haviam 3 refeições remanescentes.
- Mas como? - perguntei aos colegas de mesa.
- Parece que cortaram algumas refeições por causa das férias.
Houve cortes em parte do total de 300 refeições: pelo ouvido, na segunda foram servidas 150 e na terça 200. O mínimo esperado diante disso é algum comunicado da AG, com o fim de estimular o consumo das refeições. Afinal existe uma demanda que fica a parte dessa lógica e não as consome, levando a esse corte, que notoriamente seve para que se evitem desperdícios.
Durante as férias da FC, que vão até o próximo dia 29/02, e as da FAAC, que vão (justamente) do dia 29/02 até o dia 21/03 e as da FEB, que serão entre os dias 24/02 e 13/03, podem haver reservas online para todos os dias das semanas subsequentes na página da AG durante o período. A divulgação através dos centros e diretórios acadêmicos seria benéfica aos estudantes, demonstrando o peso da demanda de nosso campus e melhorando o acesso ao RU nesse período de calendários ainda desemparelhados devido às greves de 2013 e 2014.
Lembrando que o período de reservas online segue o horário das 7h30 de segunda até as 12h de quinta, com compra de refeições não reservadas na sexta. Alterações no período ocorrem conforme feriados.
Também é possível comprar refeições não reservadas no dia em que são servidas durante a manhã, antes das 11h30, início do período de funcionamento.

Congestão com a reserva online
- (...)A gente sabe muito bem que na segunda feira é uma quantidade razoável, de terça a quinta é muito alta a procura e na sexta-feira é muito baixa. Na sexta tem desperdício e na quarta falta comida. Então precisamos nivelar isso. Ao invés de deixar 300 por dia, ser semanal o limite - pois quem paga é a faculdade - talvez mude ou melhore alguma coisa.
Lá na moradia Luis Henrique me passava muitas ideias diferentes do comum quando o assunto era reserva - em poucos instantes depois das 7h30 o site chega até a ficar fora do ar. Perguntei ao trio também sobre a situação da reserva online. Patrícia estuda à noite, e afastada da oportunidade de usar o RU, me disse nunca ter feito a reserva online:
- Eu nunca comprei online. Tinha que comprar lá na AG, era bem complicado, tinha filas enormes. O pessoal tinha que ir 2 horas antes, tinha pessoal do integral que perdia um pedaço da aula pra ficar na fila e poder comprar.
Daniel, que também estuda à noite, opinou:
- Acho viável. Mas acho que dá pra melhorar, pondo um aplicativo no celular, e pra pagar, alguma forma de débito ou coisa assim.
Falar de “formas de débito” remete justamente a um modelo de RU onde são colocados créditos e as refeições são consumidas nos dias e horários que forem convenientes ao usuário.
Se há um fato que faz mal e complica o uso do sistema do RU são as limitações do seu servidor. Luis Henrique argumentou em torno de aspectos técnicos do sistema da AG:
- O sistema no geral tem como melhorar, só de organizar ele um pouco melhor já facilitaria o acesso. Ele é complexo para acessar pelo celular, tem muita ‘sujeira’, coisa carregando junta, isso atrapalha um pouco. Só de reorganizar, sem fazer nenhuma mudança estrutural, já ajudaria bastante.

João Vitor Reis (Ninja) foi coordenador de assistência ao estudante (2011-2014) nas chapas 'Reativa e 'Reforma' do Diretório Acadêmico 'Di Cavalcanti' (DADiCa).
No início de fevereiro de 2015 as reservas eram feitas diretamente no prédio da Administração Geral do Campus. das 300 refeições, 250 eram reservadas para a semana seguinte, e 50 para se servir no dia. As filas chegavam a dar uma volta inteira em torno do prédio. Será que a demanda suporta 300 refeições? (Foto: Ninjoco)
Sexta passada fui na AG verificar por refeições remanescentes dessa semana, descobri que tinham refeições de segunda à sexta-feira. Por causa do carnaval e das férias de cerca de 2270 graduandos da FC (desde o dia 6, com volta dia 29/02) sobraram 120 refeições/dia, remanescentes de reservas não pagas - ou simplesmente não feitas - na última quinta, primeiro dia útil depois do feriadão.
A “boa” notícia é o período menos apertado para a realização das reservas. A FC já está de férias e a FAAC terá aulas para seus 1425 graduandos até 29/02,com volta dia 21/03; a FEB, do dia 24/02 até 13/03, para 1100 graduandos.


RU apenas com reservas


Enérgico e direto, o ponto de vista que Rodrigo me afirmava, lá em janeiro:
- Por causa da quantidade tem que ter reserva, senão não dá. Se fosse uma quantidade maior não precisaria.
Faz sentido quando se trata de organizar um modelo regulador, baseado em um orçamento que tem seu cerne na austeridade econômica rígida do governo paulista.
Antes fosse como em diversos bandecos universitários país afora, onde basta arrumar um cartão e depositar créditos, ou apresentando algum documento da universidade, com pagamento no ato. O único entrave seria a formação de filas. A solução à primeira vista seria o aumento da oferta de refeições, lembrando que 25% dos calouros matriculados na Unesp em 2016 são de escolas públicas, metade atendendo às cotas para pretos, pardos e indígenas.
Logo depois parti do restaurante particular da FEB e passei na biblioteca para arrumar leituras do TCC. No aparelho eletrônico de devolução de livros vi Fabrício Furlan Inocêncio, do 1º ano de Jornalismo diurno. Ao perguntar sobre a questão das reservas, sua visão foi mais questionadora:
- Eu ainda não entendi direito (as reservas), por que aquele espaço ser tão grande, por que só ser 300 refeições por dia. Mas é até bom, porque organiza um pouco, senão fica muita gente em cima da hora, muita fila.
Indaguei por algum aprofundamento sobre o que ele pensara:
- A quantidade de refeições ser baixa tem algum interesse, uma razão em especial?
- Não, nunca pensei sobre isso.
Senti nesse instante, a parte de qualquer julgo, falta de uma crítica pesada, com a peita de quem cola cartazes, realiza assembleias e organiza documentos e argumentos. Porém mesmo para tempos de marasmo nas mobilizações estudantis a atividade de coletivo em coletivo tem influenciado costumes e atitudes, revolucionando conforme seu território.
Resolvi ir para a Moradia Estudantil, área próxima do campus mas sem estruturas de iluminação ou de necessidades como farmácia, padaria ou mercado.
Lá, procurei entrevistar quem se interessasse. E as perspectivas foram muito interessantes. Me contava sobre as reservas a Patrícia da Silva Almeida, do 4º ano de Biologia...
- Bem complicado. Como tem um número muito grande de alunos que procuram e um número muito pequeno de refeições que são servidas, então é muito difícil pra gente conseguir marcar e comprar.
...Já Daniel Martins Soares, do 2º ano de Artes Visuais, rapaz de Promissão - terra onde há praias naturais do Rio Tietê - argumentou o quanto o sistema de reserva afasta o estudante da Unesp...
- O sistema de reserva é até legal, interessante. O grande problema mesmo é o número de refeições em relação ao campus. Acho que a maioria das pessoas deixam de lado o RU por causa do problema de comprar, de ter que ficar esperando até 13h30 e não ter almoço.
...Por último havia o estudante quase graduado de Ciências da Computação, Luís Henrique Phul de Souza, que já me falava o que tem que ser feito, que atitude tomar, mirando no fato de que a baixa quantidade de refeições atrapalha, inclusive, no custo...
- Tem como melhorar o sistema de reserva. Tem métodos pra maximizar o lucro sem custar tanto pra faculdade. A reserva é legal, sem ela não iria funcionar muito bem. Dá pra melhorar. Deixaria menos custoso pra faculdade e aumentar o número de refeições seria a solução mais certa pra resolver esse problema de não conseguir comer no RU.
Entenda onde um contrato pode ajudar a aumentar refeições na parte 3


João Vitor Reis (Ninja) foi coordenador de assistência ao estudante (2011-2014) nas chapas 'Reativa e 'Reforma' do Diretório Acadêmico 'Di Cavalcanti' (DADiCa).

O RU da Unesp Bauru tem a administração terceirizada da empresa Silus Seviços Eirelli EPP (cujo nome fantasia é ‘Eu Alimento'), situada na cidade de Votorantim. A contratação de empresas terceiras ou concessão de serviços públicos via licitação é prática comum nas IES. (Foto:Ninjoco)

A gestão da chapa ‘Mosaico’ do DADiCa publicou em sua página do Facebook novas medidas em virtude da renovação de contrato de concessão e terceirização da administração do RU.

Mais difícil que entender a burocracia do processo de reserva - pois há de se notar que são questão de rigor e melhoria no aproveitamento do consumo das 300 reservas - é a falta de clareza nos termos da renovação. Quem faz Unesp já conhece o completo desequilíbrio entre oferta e demanda dos benefícios e políticas de permanência, logo o que se espera da Comissão do RU, do GAC, da AG do campus Bauru e da reitoria é o investimento em esforços para que haja, no mínimo, aumentos plausíveis no número de refeições e a abertura do RU no período noturno.
Na época da abertura do bandeco, além da disparidade de perspectivas entre GAC e AG (em texto desse mesmo blog), o Diretor Técnico Administrativo Cláudio de Martino citou a necessidade de nova licitação para que haja refeições noturnas, enquanto que Dagmar Hunger, presidente do GAC na época, falou da necessidade de avaliação do contrato, que era de 15 meses.
Nessa renovação contratual mais do que a produção de reajustes nos preços (de R$8,70 para R$9,40 na refeição sem subsídio), espera-se a adequação da instituição a uma alimentação regular.

3 refeições por dia


Lá no restaurante da FEB, Rodrigo também me dizia:
- Pra mim, almoço já é o suficiente.
Sim, dificilmente o universitário faria as três refeições diárias somente nas dependências do campus, como ocorre em recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mas faria até duas se tivesse opção.
Durante a ocupação do RU em 2013 haviam disponibilizados documentos datados do início da década de 90, onde havia um projeto de RU maior tanto no número de pessoas comportadas quanto na quantidade de refeições. E ainda por cima tendo ‘desjejuns’, almoço e jantar(!). Talvez nem tudo que o projeto daquela época descreve seja o ideal para hoje, mas com toda certeza contemplaria em grande parte as necessidades estudantis. Maithê vê bom proveito em tomar um café da tarde:
- Não jantaria, porque minhas aulas acabam às seis da tarde. Pra mim é muito tranquilo ir pra casa e fazer minha comida lá. Se tivesse alguma coisa à tarde, acharia bem interessante, além das cantinas, uma outra opção de lanche ou um café da tarde.
Já Édipo enxerga a a importância do jantar para o período noturno:
- Um café da tarde é sempre bom. Sou do diurno, então em muitas tardes acabo ficando aqui, é legal. Não sou do noturno mas um jantar super aprovaria.
Dependendo da renda do estudante, por economia o ideal para ele seria consumir as três refeições subsidiadas. Afinal a finalidade principal do RU é colaborar para que, mesmo estudantes fora da realidade socioeconômica do campus (e há coletivos que a expressam especialmente como não-branca), se tenham oportunidades iguais.

João Vitor Campos dos Reis (Ninja) foi coordenador de assitência ao estudante (2011-2014) nas chapas 'Reativa' e 'Reforma' do Diretório Acadêmico di Cavalcanti (DADiCa).